Desabrigados por teleférico do Alemão ficaram sem aluguel social
Moradores tiveram de sair de casa mesmo sem ganhar, por nove meses, benefício de R$ 400 prometido; maioria se abrigou com parentes
Nem todo mundo no Complexo do Alemão ficou satisfeito com a construção do teleférico, projeto-símbolo do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na região, ao custo de R$ 210 milhões. Muitos moradores desalojados de suas casas pela obra - que rendeu à presidenta Dilma Rousseff o apelido de "mãe do PAC" - ficaram por nove meses sem receber o prometido aluguel social de R$ 400 mensais, enquanto esperavam pelo apartamento que substituiria o antigo lar. Para quem foi removido, esse benefício se destinaria a alugar uma moradia provisória até as obras dos apartamentos populares ficarem prontas, na Estrada do Itararé, no "asfalto”.
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Sem o dinheiro planejado, a saída da maioria foi recorrer ao abrigo de parentes solidários por longos nove meses, morando de favor. Na soma das parcelas devidas pelo Estado, cada família deixou de receber R$ 3.600.
Esse montante se mostra mais relevante se levarmos em conta que o Complexo do Alemão é a região com os piores condições de vida na cidade do Rio. Quase um terço (29%) dos seus 56.556 habitantes vivia abaixo da linha de pobreza, em 2000, e tinha o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da cidade (0,71, em escala que vai de zero a um).
Por conta de dificuldades financeiras, o carpinteiro paraibano Manoel Lourenço Sobrinho, 68 anos – há 45, morador do Morro do Adeus –, decidiu ficar em casa até quando fosse possível. Foi o último morador a sair, com o imóvel rachado pelo impacto das máquinas e o fornecimento de luz e água já cortado.
Esmeralda e o sogro, Manoel, não receberam o prometido aluguel social por nove meses
“Sofri para danar. Fiquei em casas da família, de lá para cá. Fui o derradeiro a sair, até o pessoal vir derrubar, já sem luz nem água”, afirmou Manoel, que lamentou ter sido obrigado a deixar sua residência.
"Construí com as minhas mãos, mesmo. Eram três quartos, dois banheiros, uma sala enorme, varanda... Preferia estar na minha casa, mas morar na (beira da) rua também é bom”, disse Manoel, que morava no alto do morro.
A nora e vizinha Esmeralda Inácio Silva, 38 anos, passou pelo mesmo problema, com o marido, o vidraceiro Edvan Lourenço, 36.
“Tivemos de sair por causa da obra, a casa foi interditada. Ficou toda rachada. Disseram que não foi por causa da obra, que foi a chuva, mas ninguém acredita, porque sempre teve chuva e nunca aconteceu isso. Tinha cada rachadura que dava para ver do lado de fora. Falaram que íamos receber aluguel social até ganhar o apartamento. Nós nos cadastramos, mas não recebemos. Minha tia é que ficou ajudando com as despesas, se não fosse ela, nem sei! Acho que não vamos ganhar mais”, lamentou.
Esmeralda também lembra de uma vizinha com três filhos e passou enormes dificuldades no período. “Foi uma ‘barra’. Ela disse que ou pagava o aluguel ou comprava alimento para os filhos”, lembra.
Josefina Soares, a Zefinha, foi outra que não recebeu nenhuma indenização durante o período de espera pelo apartamento onde vive agora. “Uma filha minha ganhou, mas eu e outra filha nunca recebemos”, disse. A saída foi alugar uma casa, para onde foram Zefinha, as duas filhas, os maridos e os netos.
Procurado pelo iG, o Estado do Rio não respondeu aos questionamentos a respeito do não-pagamento do aluguel.
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